por Cassiano Rodka
Não pare. Não agora. Não nunca. Restam sabe-se lá quantas paradas, mas o trem segue. Não desça no local errado. Acostume-se com o balanço da vagão. Não siga a maioria, cada um tem a sua estação.
Voe alto sem medo do calor do sol. Suas asas aguentam mais do que você imagina. Mantenha o coração adiante, a cabeça como um segurança. Quando cair, levante.
Chore. Não se impeça de vivenciar nada do que você está passando. Deixe o sentimento abraçar você e lhe despir do seu próprio peso.
Faltam sete paradas.
Não fuja do que você não entende. Olhe. Aprenda. Ouça. Experimente. Não engula tudo o que lhe alimentam. Cuspa o que não lhe apetece. Encontre os seus gostos. Saboreie.
Abra a janela. Alimente seus olhos com o que há lá fora. Inspire-se. Aprecie o que os outros produziram. Divida com eles o que você criou. Ninguém sabe fazer do seu jeito. Alguém precisa do que você inventa. Inspire.
Mais duas paradas.
Não arraste o cadáver do passado no meio da sala. Não alimente zumbis. Mantenha o seu cérebro seu.
Acostume-se com os predadores. Jamais se conforme em ser uma presa. Na água, nade dos tubarões. No ar, voe dos falcões. Na terra, fique longe dos filhos da puta. O mundo está cheio deles. Identifique-os. Afaste-se. Apenas deixe que eles lembrem você do valor dos que lhe amam. Costure-se neles.
Chegamos.
Você está na parada certa. Desça. Olhe ao redor e reconheça o valor de estar ali naquele momento. Respire aquele ar. Saboreie aquele silêncio. E ponha-se a caminhar.
Fora da estação, o sol já está se pondo.