O prazer da tristeza

Foto: Kilarov Zaneit

“Eu amei o filme! Chorei horrores!”, disse você depois de assistir àquele filme que mexeu muito com as suas emoções. “Essa música me deixa muito triste. É uma das minhas preferidas!”, revelou também você quando tocou aquela canção melancólica que está sempre nas suas playlists. 

Não é curioso que a tristeza, através da arte, pode nos dar prazer? Nós nunca celebramos um momento de choro no nosso dia a dia. Raramente damos destaque nas redes sociais a situações tristes que passamos. Ninguém quer viver a tristeza na realidade. Mas buscamos senti-la na arte. Às vezes, o intuito é sublinhar algo que estamos sentindo. Já em outras, é apenas um passeio pela melancolia, com hora para acabar. Talvez porque, na arte, tenhamos certo controle sobre a tristeza. Sabemos quando a faixa acaba. Ou o tempo médio do filme. Mas, na vida real, não temos controle sobre o fim da tristeza. Tampouco seu início. 

Fazemos isso não só com a tristeza, mas com outras emoções. Quando assistimos a um filme de terror, queremos provocar medo em nós mesmos. Mas, mais uma vez, com hora para iniciar, e absoluto controle sobre o seu fim. Quer parar de ver? Clic. O poder de controlar nossas emoções nos fascina. Justamente porque não conseguimos fazer isso no mundo real. Mas por que instigar a tristeza ou o medo? 

Porque as emoções nos fazem sentir vivos. 

Aquela sensação de aperto no peito quando choramos nos faz humanos. O coração batendo forte de medo nos recorda que estamos vivos. Sentir qualquer emoção é melhor do que não sentir nada. Provocamos as emoções porque queremos despertar a vida. Queremos que o sangue corra, que o coração pulse, que a pele se arrepie, que os dedos se contorçam, que os olhos despejem a tristeza, e que a vida – sem dó ou moderação – nos preencha por inteiro. 

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