
Sem voz,
pedi um microfone.
Sem olhos,
arrumei a partitura.
Sem dedos,
sentei-me ao piano.
Sem mãos,
regi a orquestra.
Sem entender,
todos me aplaudiram.
Sem voz,
pedi um microfone.
Sem olhos,
arrumei a partitura.
Sem dedos,
sentei-me ao piano.
Sem mãos,
regi a orquestra.
Sem entender,
todos me aplaudiram.
É como o último livro a preencher uma estante. De repente, olhamos para ela e a percebemos completa. Cada um dos exemplares enfileirados como se fossem palavras escolhidas a dedo para compor um poema. Tudo no seu devido lugar. O sentimento é gigante. É uma satisfação cachalote que nos enche de esperança. A possibilidade de ter cada uma daquelas páginas lidas – não por um, mas por todos nós. As traças vão aparecer novamente – não se engane. Mas eu (e você) vamos esmagar uma a uma, espanar o pó com gosto e admirar (hoje e sempre) aquela estante completinha.
É como o último livro a preencher uma estante. De repente, olhamos para ela e a percebemos completa. Cada um dos exemplares enfileirados como se fossem palavras escolhidas a dedo para compor um poema. Tudo no seu devido lugar. O sentimento é gigante. É uma satisfação cachalote que nos enche de esperança. A possibilidade de ter cada uma daquelas páginas lidas – não por um, mas por todos nós. As traças vão aparecer novamente – não se engane. Mas eu (e você) vamos esmagar uma a uma, espanar o pó com gosto e admirar (hoje e sempre) aquela estante completinha.
É como um berro que desagasta a voz.
As palavras vão ficando magrinhas,
quebradas, inaudíveis.
A camisa não cabe mais,
o sorriso não abre mais,
eu espero que acabe, mas…
Uma espiadela para trás.
Um carinho no talvez.
E bye bye!
É o capítulo final.
Um salto mortal.
A batata tá sem sal.
Um presente perfeito
para o eu do passado.
Obrigado!
Mas vai
Que essa era
já era.
Não acredito no horizonte
Sei que tem algo mais adiante
Fingindo-se de distante
Por lançar palavras contra a correnteza
E enxergar beleza na ponta da lança
Um passo à frente, um mundo adiante
Olho para trás
Há um pedaço de passado
escondido entre as montanhas
Chamam de civilização
Olho para os lados
Há construções de pedra
separando povo e divindades
Chamam de religião
Olho para dentro
Há um sentimento vasto
entrançado em fascínio e desengano
Chamo de revelação
E enfim olho para a frente
Há uma névoa ocultando um caminho
bifurcado entre o legado e a esperança
Chamo de decisão
Um grão de areia no deserto.
Uma gota exposta ao sol.
Se o infinito é um segundo,
Pinto e invento um novo mundo.
Às vezes a gente acorda num mundo diferente.
Depois olha pela janela e percebe
que o que tem de novo
é a gente.
Era um monstro. Desde que bati o olho, tive certeza. Tentei avisar, mas alguns pareciam não me escutar. Ou não queriam. Eu apontava para o canto escuro e dizia: é um monstro! De nada adiantava. Um parente aproximou-se da escuridão e não viu um monstro, viu um espelho. Um vizinho escutou o rosnado do bicho e disse que eram sábias palavras. Minha colega de trabalho disse que não percebia diferença entre o monstro e um ser humano. Havia algo errado. E eu não demorei a perceber que a criatura tinha um poder de hipnose e mimetismo. Eles olhavam para ela e transformavam-se em parte de uma grande besta. Cada vez maior, parecia impossível de contê-la. Mas, dia a dia, eu encontrava alguém que via o monstro. Enxergava com precisão cada detalhe. E fomos nos conectando, uns aos outros, crescendo em número – e em boa visão. Nos demos as mãos e, dessa união, foi surgindo uma corrente. Mas não uma qualquer. Uma corrente tão longa e tão maciça que foi possível – com coragem e resiliência – enlaçar o monstro e derrubá-lo no chão. Chorou, esperneou, mas foi vencido. A melhor maneira de domar um pesadelo é transformá-lo em sonho.