O amor é uma luta

Quando criança, aprendi que o amor estava nas pessoas e era passado de uma para outra através do beijo. Era mantido seguro no aperto das mãos entrelaçadas e concretizado em uma troca de alianças. Quando duas pessoas se amavam, o fato era celebrado por todos, até virava festa. A união era eterna e levava a um só lugar: o tal do final feliz. 

Aí eu cresci. 

O amor que eu sentia não era celebrado. Era um erro. Algo a ser escondido em um diário dentro de uma caixa embaixo da cama. Gostar de alguém era um perigo. Os olhares eram espiadelas. O contato se dava no mundo das ideias. O amor era solitário. Não era sentido, mas almejado. Vinha em forma de escrita, de música, de lágrimas. Mas não vinha nunca. Eu sentia que era o único a amar assim. Não entendia quem eu via no espelho. 

Aí eu me encontrei. 

E junto comigo, toda uma comunidade. O amor voltou a ter sentido. Passou a ser sentido. Ficou maior. Tão enorme quanto uma massa de pessoas descendo a avenida Paulista. As mãos dadas passaram a ser tão importantes quanto os punhos cerrados jogados ao alto. A escrita não é mais traçada em letras miúdas, vem em letras garrafais. A música não é mais só minha, é um canto em uníssono – envolvente, estremecedor, efervescente. Em ebulição. Uma união que não é presa por uma aliança, mas por um elo comunitário. O amor não é nada daquilo que eu aprendi. O amor é uma luta. Uma batalha diária pelo seu próprio sentido. É olhar-se no espelho e sorrir. É olhar para o outro e se enxergar. É uma longa caminhada rumo a um estado de pertencimento, de harmonia e de recognição. 

E eu acho que cheguei. 

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