O fim de uma era

É como um berro que desagasta a voz.
As palavras vão ficando magrinhas,
quebradas, inaudíveis.

A camisa não cabe mais,
o sorriso não abre mais,
eu espero que acabe, mas…

Uma espiadela para trás.
Um carinho no talvez.
E bye bye!

É o capítulo final.
Um salto mortal.
A batata tá sem sal.

Um presente perfeito
para o eu do passado.
Obrigado!

Mas vai
Que essa era
já era.

Machu Picchu

Olho para trás
Há um pedaço de passado
escondido entre as montanhas
Chamam de civilização

Olho para os lados
Há construções de pedra
separando povo e divindades
Chamam de religião

Olho para dentro
Há um sentimento vasto
entrançado em fascínio e desengano
Chamo de revelação

E enfim olho para a frente
Há uma névoa ocultando um caminho
bifurcado entre o legado e a esperança
Chamo de decisão

Exótico

Um passarinho me contou
Que nada do que você disse
Tem nexo ou relevância

O passarinho também me falou
Que era tudo baseado em crendice
Um discurso em dissonância

O passarinho ainda me confessou
Que achou tudo uma chatice!
Um blá-blá-blá de pura ignorância!

O passarinho, por fim, me revelou
Que, em meio a tanta caretice…
Melhor chamar a ambulância.

Quando a sereia envelhece

Você olha e lamenta.
Não vê mais beleza.
Mede nos olhos a tristeza
de alguém que já não é.

A pele secou.
O peito murchou.
Pra você, ela passou da hora.
E seu rosto chora.

Mas há o canto.
Que, enquanto você olhava,
não percebeu.
Mas ouviu.
Lhe seduziu.
E você caiu.

No canto da sereia.
No conto do vigário.
Pra deixar de ser otário.

Acione todos os sentidos.
A beleza não está só no olhar.
Ela também ecoa na concha dos ouvidos.