
Sem voz,
pedi um microfone.
Sem olhos,
arrumei a partitura.
Sem dedos,
sentei-me ao piano.
Sem mãos,
regi a orquestra.
Sem entender,
todos me aplaudiram.
Sem voz,
pedi um microfone.
Sem olhos,
arrumei a partitura.
Sem dedos,
sentei-me ao piano.
Sem mãos,
regi a orquestra.
Sem entender,
todos me aplaudiram.
É como um berro que desagasta a voz.
As palavras vão ficando magrinhas,
quebradas, inaudíveis.
A camisa não cabe mais,
o sorriso não abre mais,
eu espero que acabe, mas…
Uma espiadela para trás.
Um carinho no talvez.
E bye bye!
É o capítulo final.
Um salto mortal.
A batata tá sem sal.
Um presente perfeito
para o eu do passado.
Obrigado!
Mas vai
Que essa era
já era.
Olho para trás
Há um pedaço de passado
escondido entre as montanhas
Chamam de civilização
Olho para os lados
Há construções de pedra
separando povo e divindades
Chamam de religião
Olho para dentro
Há um sentimento vasto
entrançado em fascínio e desengano
Chamo de revelação
E enfim olho para a frente
Há uma névoa ocultando um caminho
bifurcado entre o legado e a esperança
Chamo de decisão
Um grão de areia no deserto.
Uma gota exposta ao sol.
Se o infinito é um segundo,
Pinto e invento um novo mundo.
Às vezes a gente acorda num mundo diferente.
Depois olha pela janela e percebe
que o que tem de novo
é a gente.
Tem gente demais na vizinhança.
Olhos na minha roupa,
perguntas indiscretas,
sorrisos amarelos,
bom dias insinceros,
comentários ardilosos,
silêncios reprogramáveis.
Tem gente demais na vizinhança.
Um passarinho me contou
Que nada do que você disse
Tem nexo ou relevância
O passarinho também me falou
Que era tudo baseado em crendice
Um discurso em dissonância
O passarinho ainda me confessou
Que achou tudo uma chatice!
Um blá-blá-blá de pura ignorância!
O passarinho, por fim, me revelou
Que, em meio a tanta caretice…
Melhor chamar a ambulância.
Você olha e lamenta.
Não vê mais beleza.
Mede nos olhos a tristeza
de alguém que já não é.
A pele secou.
O peito murchou.
Pra você, ela passou da hora.
E seu rosto chora.
Mas há o canto.
Que, enquanto você olhava,
não percebeu.
Mas ouviu.
Lhe seduziu.
E você caiu.
No canto da sereia.
No conto do vigário.
Pra deixar de ser otário.
Acione todos os sentidos.
A beleza não está só no olhar.
Ela também ecoa na concha dos ouvidos.
Ah, se antes eu soubesse…
Que há paz.
Há silêncio.
Há o sussurro do mar
quando você
não há.
Tem lugar para dois? Fez reserva?
Tem Wi-Fi? Qual a senha? Com letra maiúscula?
Não vejo banheiro. Tem banheiro aqui?
Pode despachar a mala? Tem espaço sobrando?
Não. Só tenho o mar.
Água, plantas, peixes e rochas.
Com um silêncio sereno e ininterrupto.
E nada mais.