por Cassiano Rodka
É cliché, mas é verdade. Natal é um saco! Várias pessoas implicam com essa data comemorativa pelas mais diversas razões. E eu tenho as minhas.
Natal é tempo de reunião com a família, de trocar presentes, de encher o bucho. “E isso é ruim?”, pergunta a senhora do fundo. Não, isso é ótimo! Ninguém está lá para comemorar o aniversário de Jesus – quem é esse mesmo? – , mas para encher a cara com os primos, rechear o estômago com presunto e ovos moles e ganhar as mais variadas tentativas de agrado material. “Você não gosta de ganhar presente?”, pergunta o menininho da primeira fila. “Ele não gosta de ter que trocar os presentes que não gostou”, diz a mãe baixinho – mas não o suficiente que eu não ouça – para o filho. Não, não, errado, moça. Eu não sou difícil de dar presentes, acho qualquer lembrança válida. Mesmo. “Então qual é o teu problema??”, pergunta irritado um velhinho da terceira fila. (Talvez a essa altura seja válido explicar que estou falando para uma plateia de 26 pessoas, uma caravana de curiosos que veio ouvir os meus porquês e aguarda um possível – não vai rolar – brinde natalino na saída.) Meu senhor, sem maiores delongas, explico-me.
Caros amigos, irrita-me a neve falsa e a maldita roupa do Papai Noel. Quem já se disfarçou de bom velhinho deve me entender melhor nesse quesito. Natal nos Estados Unidos, bem como na Europa é sinônimo de inverno. Isso justifica a relação da data com bonecos de neve e crianças encasacadas. Mas no Brasil o Natal acontece no verão, num calor invariavelmente infernal. Por que diabos importamos a ideia de um Natal frio? É quente! E é MUITO quente! E isso é razão suficiente para não fantasiarmos um pobre familiar – normalmente o mais gordinho – numa roupa vermelha vergonhosamente calorenta. A ideia de um Papai Noel tropical que usa calção de banho e curte uma praia já permeia a publicidade há um tempo e eu realmente gostaria que fosse adotada por completo. “Um Papai Noel de calção é absolutamente ridículo!”, diz uma moça ao lado do marido que concorda. Mais ridículo que um vestido com roupa de lã num calor abrasador de quase quarenta graus? Ela pensa e franze o beiço como quem talvez concorde – mas não. Por que não adaptar esse feriado às nossas condições climáticas? Sorvete, mar, praia, calor, bermuda, esse é o nosso Natal. Para os americanos seria tão fácil – e natural – fazer isso, eles certamente tomariam todas as providências necessárias para transformar o feriado e atender às condições do país deles. Mas a gente importa tudo. E engole como vier. Natal é um saco no Brasil porque é falso. É um faz de conta importado que não reflete o que somos. E é isso o que me incomoda.
É isso, amigos. Obrigado por terem vindo!
(A caravana aplaude. Não que concordem comigo, aplaudem porque aprenderam que é isso que se faz nessas horas. Levantam e saem apressados do salão. Alguns insatisfeitos com a falta de brindes, outros pensando em comprar algodão pra pôr na árvore.)