
Em ondas de areia clara e escura, eu surfo. Não fujo do passado, mas passo raspando, passando a mão na areia sem me comprometer. É um afago no eu pretérito, não um colo. Minha prancha segue firme e inabalável. Até eu cair, é claro. Ah, sim, eu caio. Mas como o carinha do Pitfall, eu encontro uma nova vida, pulo a areia movediça e sigo. Porque futuro é isso: uma vida extra. Não é sequência do presente, até porque o presente já era. Futuro é horizonte. É pra lá que eu surfo. Sem enxergar bem o que tem naquela linha distante. Pode ser praia, ilha, pirata ou sereia. Quem sabe uma baleia? Só sei que não é o que ficou pra trás. Poderia ser. Não quero. Quero envelhecer rejuvenescendo. Quero me embriagar de lucidez. Montar num cavalo marinho e brincar de ser mais eu. Eu agora, não eu pretérito. Precisamos todos rejuvenescer. Surfando nas areias do tempo. Caindo. Vida extra. Rumo a uma inalcançável linha que – veja bem – fica logo ali.