
ilustração: Cassiano Rodka
Meu Carnaval é você.
Sua presença chega forte na avenida e preenche cada ala como o som do repique. Seu sorriso é meu carro-chefe, me põe em cheque, me faz cantar. Eu sambo por você enquanto seu olho me contorna. Eu sou sua musa, um chute na trave, e ela já sabe. Deixo você sem graça, sou o sabor da sua cachaça. Você me bebe e eu entorno você, como já é de costume. Seu bafo de cana é meu perfume. Debaixo da máscara, eu vejo você e mais nada. No seu coração, sou eu a batucada.
É também você a minha Quarta-feira de Cinzas.
Os restos de purpurina no cabelo e o gosto amargo da catuaba às 10 da matina. Meu pijama suado e as serpentinas na sola do pé… Já sabe quem é? Foi bom e foi você. Mas agora você já era. Na hora do banho, lá vai você escorrendo pelas minhas pernas, descendo rápido pelo meio dos dedos, derramando-se em memórias, fazendo a maquiagem virar careta, se esvaindo no ralo como um pierrô na sarjeta.