por Cassiano Rodka
Eu tenho um respeito enorme pelo silêncio. Só o interrompo quando é realmente necessário. Corto finamente seu tecido com algumas poucas palavras, depois deixo ele preencher novamente o espaço ao redor.
Quando tatuo a sua pele, é para que ele ganhe uma voz. A única coisa pior do que uma tatuagem que perde a cor é aquela que perde o seu significado. Se seu grito tem significância, quebre o silêncio. Se seu berro tem importância, estraçalhe o silêncio. Não se preocupe, ele sempre se recupera. E o silêncio que ressurge após um rugido cheio de intenção é sempre mais macio e reconfortante.
No aparente vazio do silêncio, acontecem um bocado de conexões. A mente brinca de ligar os pontos com os pensamentos, costura ideias e esculpe conceitos. Escute o silêncio. Ele fala baixinho, mas diz muito.
Eu falo pouco, mas não menos do que eu gostaria. Só não consigo jogar palavras ao vento como se apedrejasse o silêncio. Sirenes, despertadores, vocês me cansam. Bêbados ao meio-dia, pessoas que falam pelos cotovelos, vocês não sabem o que estão fazendo. Silêncio, um beijão para você.
A gente tem uma parceria, eu e o silêncio. Às vezes ele toma conta do ambiente, outras vezes, sou eu. Ele é um bom amigo e sempre me deixa passar na frente quando eu tenho uma boa risada, uma nova canção ou uma opinião que possa mudar o mundo.
Eu não grito sem motivo, nem silencio o meu intento.
Dou voz ao silêncio. E escuto quem eu sou.