por Cassiano Rodka
A inspiração é, para mim, um quartinho. Quando entro nele, o mundo lá fora desaparece. E eu fico fechado no cubículo, flutuando no espaço, deixando as palavras fluírem. Posso passar meses no quartinho esculpindo histórias. Tempo não é problema, palavra errada é. Gosto da história, mas gosto mais ainda da roupa que ela usa. Um conto decotado é irresistível. Não é começo-meio-fim, é um redemoinho que te põe dentro da história de tal maneira que parar de ler significa ser catapultado a uma realidade a qual o leitor não mais pertence. A maneira que as palavras se ordenam para contar uma história faz toda a diferença. Eu sou aquela professorinha que organiza a fila, mas minha ordem independe de tamanho, tem a ver com fluência. Se for instigante que Joãozinho seja o primeiro e Fernandão o próximo de cabeça para baixo, assim será feita a fila. Sinto que é meu dever criar o redemoinho. Evitar a fila em ordem de tamanho, experimentar diferentes roupas em diferentes histórias. Deixar que sejam inspiradoras, ridículas, adoradas ou execradas. Desde que sejam redemoinhos. Que te suguem, te façam girar, te cuspam e te deixem zonzo. No fim do texto, tu talvez não saibas qual foi a história. Mas ela permanece contigo.