por Cassiano Rodka
À Laura, que faz parte da cadeia indumentária
Minha lembrança mais antiga é do apoio constante e reconfortante do cabide. Não há nada como ter um ombro amigo perpetuamente disposto a segurar as pontas e, esse tipo de suporte, eu sempre tive. Sentia que a vida seria assim: um eterno me veem, me tocam, me provam e me devolvem pro mostruário. Mas todo calendário tem um quê de caleidoscópio e, quando menos esperamos, estamos diante de um novo sei-lá-o-quê.
Quando me compraram, eu só saía do armário em dia de festa. Me vestiam com cuidado e eu me via no espelho umas duas ou três vezes antes de voarmos para a noite. Na balada, eu abalava. Recebia elogios dos amigos e carinhos desamassantes do meu dono. Não tinha para ninguém, éramos um só item.
Mas o tempo passa e nos amassa. E aí não há ferro quente que nos salve. Banida da estante, fui passada adiante. Nas mãos da prima, eu não saía da cama. Virei pijama. Meus dias de glória ficaram no fundo da gaveta da memória. Entre os meus, virei motivo de chacota. Não existe coisa mais triste nesta vida do que ser ex-preferida. Com a luz apagada, dormimos grudadinhas e sonhamos com dias melhores.
Contudo não há nada de ruim que o tempo não possa piorar. E o passado sempre fica mais bonito a alguns quilômetros de distância. Hoje em dia, não sou mais pijama. Desbotada, em farrapos, ganhei uma nova missão. Não me chamam mais de camiseta. Meu nome, agora, é pano de chão.