por Cassiano Rodka
Ao Fabs
A foto era assim: tinha ele e um cachorro. Ele estava sentado nos degraus de uma escada e segurava uma das patas do cão. Era a quinta ou sexta imagem que eu via dele, mas, de alguma forma, foi ali que o enxerguei pela primeira vez. Sem o sorriso preparado da número 1 ou a pose ensaiada da número 3. Não tinha gel ou camisa bem passada. Era um carinha sentado com o seu cão no pátio de sua casa. Ao seu redor, não havia os pôsteres de super-heróis da número 4, nem os CDs de rock inglês bem posicionados na composição da número 2. Ele e o cachorro eram emoldurados por grandes vasos com plantas e pela sombra das grades de cima do muro, que deitavam sua silhueta nas paredes amarelas da casa. Não que algum deles percebesse qualquer uma dessas coisas. O cão amarrava sua atenção no afago que devolvia ao dono. Ele, por sua vez, mantinha seus olhos baixos em um doce zelo que abraçava, taciturno, o cão. Na fidelidade do toque, revelava-se a longa parceria. Na melancolia do leve sorriso, desenhava-se uma velada lacuna. Uma vida atribulada se espalhava na barba por fazer e se aprofundava secretamente em algumas cicatrizes. Na busca por conforto, encontrava-se (ou procurava-se) sentado nos últimos degraus daquela escada. Distraidamente equilibrado entre o intimidante início de uma descida e o triunfante final de uma subida, só havia ele ali. E o cão. E foi assim que eu conheci o cara.