por Cassiano Rodka
Tentei, tentei e tentei. Mas a performance sempre decepciona o treino. Perdi tanto tempo no perfume e na escolha da camisa certa que cheguei atrasado ao restaurante.
Não foi assim que planejei. Eu chegava cedo para pegar a melhor mesa para nós dois. E, quando entravas pela porta, eu te abanava sorrindo e vinhas até mim no exato tempo em que eu levantava e puxava a cadeira para sentares.
Já estavas lá, olhando o cardápio. Quando me aproximei, não me viste e dei um oi sem graça, e teu oi surpreso, e um beijo confuso, e minhas desculpas, e tudo bem, olhos distraídos no cardápio, começo de conversa interrompido pelo garçom, não escolhemos ainda, a massa, o vinho, escolha anotada e só aí um início de interação decente entre nós dois.
Na minha cabeça, a conversa surgia muito mais sutilmente, agradável e divertida, sem interrupções e com aquela fluência que só os bons pares têm. E os tópicos que tanto treinei, que tanto queria te dizer? Por que não surgiram em momento algum?
Mastigamos o fettuccine e as palavras, bebemos o vinho e as histórias. E os teus pais, e os meus amigos, e as tuas viagens, e os meus projetos…
E nós?
No final, por que não tomar um belo café no… Ah, tinhas outros compromissos. Mas nem se fôssemos lá em casa e… Mm, muito longe, sei.
Tinha preparado uma cena perfeita para o café: seríamos só nós dois dividindo uma saborosa xícara feita com esses grãos refinados que comprei e ainda não pus em uso, pois aguardava um momento como esse que nunca houve.
A despedida teve um abraço apertado, um beijo de leve e a promessa de um outro encontro. “Nos vemos de novo?”, foi a última coisa que te disse. Um balbuciado “sim” me serviu como resposta. Fiquei feliz. Era isso que me respondias quando treinei esse dia. Já estávamos em outra situação, mas não importa, alguma coisa saiu certa. Devo estar chegando lá.
Foi bom pra ti?