É como o espaço vazio entre o ponto final e a maiúscula da frase seguinte.
Não tem nada ali, mas ele tem a sua função. Há alguma coisa naquele vazio. E nós todos, secretamente, sabemos.
É ali que agora me vejo. Entre uma coisa e outra. Naquele exato momento em que uma porta se abre, mas ainda não enxergamos quem ou o que está por vir. E nosso olho, fixo na fresta, se enche de fascínio e medo.
Nos segundos em que a porta fica entreaberta, as coisas não estão acontecendo ou deixando de acontecer. Elas estão escondidas no antes e no depois. E, esmagados entre o passado e o futuro, nós permanecemos até o vazio tomar forma.
Um pequeno espaço de tempo onde as coisas respiram e tomam coragem para derramarem-se sobre nós. E nós – curiosos, aflitos, cheios de ansiedade – aguardamos. Mas, entre um roer de unhas e outro, há uma reconfortante compreensão: se a maiúscula vier na letra esperada, teremos muito mais que uma nova frase.