por Cassiano Rodka
Por entre os cacos de vidro, a tua frustração.
Agachado em um canto, cansado; a cabeça balança de leve, negando: o feito e o não feito. Daqui de cima, observo o esmaecido brilho do sol que reflete em alguns pedaços de pratos e copos e lâmpadas. Estilhaços de um lar que construí pra te abrigar. Onde moram nossas lembranças e momentos e parênteses. Mas esse altar, nunca pedi, nunca gostei. Desço dele mais uma vez, agora com consentimento. E a cabeça pende, pesada.
Por entre os cacos de vidro, não resta lugar pro arrependimento.
Quando te levantas, tua sombra vence o meu tamanho. Teu turbilhão de palavras vem em branco. Uma enorme lacuna preenchida com letras transparentes. E a cabeça balança insistente, velando: o dito e o não dito. E sais com aquela vontade de que eu te segure pelo braço e peça pra que fiques e prometa que tudo vai ser diferente. Mas eu não me movo. E não peço e não prometo.
A porta bate outra vez, com força.
E o coração, também.