Eu e o outro

eueooutro

por Cassiano Rodka

Acordei. Dou início à vida com o movimento do pé direito. No lavabo, justifico a compra da escova de dentes elétrica. Lavo o rosto e enxugo todo resto de sonho mal vivido. Cada peça do surrado terno cumpre o seu papel. O tilintar das chaves na porta. Dentro do carro, a caminho de uma busca para justificar a minha vida. No estacionamento do serviço, hesitante. E cá estou de volta. O irritante som das teclas de 20 computadores sendo massacradas por ideias requentadas. Não consigo ficar muito tempo sob a chuva sonora de letras, números, símbolos e erros de digitação. No banheiro, com as mãos besuntadas de sabonete líquido, me olho no espelho.

Pela primeira vez, me vejo. Me sinto sugado pelas pupilas daquele rosto levemente desconhecido. E mergulho dentro daqueles olhos cansados. Percorro a mente do cara que reflete à minha frente e sei agora quem ele é. Cedo à sua vontade e deixo ele tomar o meu lugar.

No banheiro, com as mãos besuntadas de sabonete líquido, me olho no espelho. Não consigo ficar muito tempo sob a chuva sonora de letras, números, símbolos e erros de digitação. O irritante som das teclas de 20 computadores sendo massacradas por ideias requentadas. E cá estou de volta. No estacionamento do serviço, hesitante. Dentro do carro, a caminho de uma busca para justificar a minha vida. O tilintar das chaves na porta. Cada peça do surrado terno cumpre o seu papel. Lavo o rosto e enxugo todo resto de sonho mal vivido. No lavabo, justifico a compra da escova de dentes elétrica. Dou início à vida com o movimento do pé direito. Acordei.

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