por Cassiano Rodka
Pegou a mão dela com firmeza e a olhou nos olhos até vê-la sorrir.
Observou o amarelo dar lugar ao vermelho. À esquerda, um fusca cinza freava; à direita, o hospital ainda em reformas. No ar, as badaladas do sino da igreja imploravam por fiéis. O pé direito antecedeu o esquerdo. Por instinto, não superstição. Os cabelos dela dançavam ao vento. Uma buzina misturou-se à sexta badalada. O som surdo de um Ford chocando-se com minha perna esquerda acompanhou a sétima. Meu corpo golpeou o chão durante a oitava. Por debaixo de um carro, a vi deitada sobre a faixa de pedestres. Estendi minha mão na direção dela. Ela olhou para a direita e me encontrou. Assustou-se com o vermelho que tingia minha camisa amarela. Balancei a cabeça. Não devia se preocupar. Apontei com os olhos para a minha mão esquerda. Ela compreendeu. Por debaixo do carro, estendeu seu braço direito tremendo. Senti o seu toque e segurei seus dedos pequeninos com firmeza. Fechei as pálpebras e, por trás dos olhos molhados, a guardei.