Distância

distancia

por Cassiano Rodka

Ao Nicos

A mão tremia no braço da poltrona.
Não sabia mais se era o motor ou o medo. Olhando pela janela, via seu passado. Imaginava rostos de pessoas queridas sorrindo. Sorriam em diferentes momentos de sua vida. Alguns choravam; às vezes, ele. Eram tantos os momentos se empilhando em sua mente, disputando um lugar no hall de suas lembranças, que só podia senti-los brevemente, por vezes até lembrava os cheiros ou gostos ou cenários, ou mesmo os filmes que assistia com eles… No primeiro movimento do ônibus, um frio na barriga. O motor tremendo, ele tremendo, o vidro embaçado tremendo. E a rodoviária foi ficando pra trás. E a cidade foi ficando pra trás. E a sua vida…

A mão tremia no meio do peito.
Respirou fundo e questionou suas escolhas. Olhou pela janela e observou as coisas lá de fora passando, borradas, ficando pra trás. Árvores, vacas, outdoors. Tudo ia passando e sua angústia aumentava. Carros, motos, casas. Tudo passava por ele rapidamente e sumia para sempre de sua visão. Limpou os óculos em sua camiseta e os colocou de volta. Eis que viu um carro passando a seu lado. Ia mais rápido que o ônibus e na mesma direção. Fez uma ultrapassagem pelo veículo e seguiu em frente. Sumiu. E quando ele voltou a observar a paisagem, viu que tudo estava diferente. Percebeu o que agora lhe parecia óbvio: as vacas, os carros e os outdoors não estavam ficando pra trás. Permaneciam no mesmo lugar. Quem se movimentava era ele. Junto com suas lembranças e com os rostos sorridentes; eles não ficavam para trás, eram parte do movimento, empurravam-no para frente. Ele movimentava-se.
E sua direção era a melhor possível. Ele ia adiante.

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