por Cassiano Rodka
És tu na cama dormindo. E sonhas com magos, castelos e bichos. Sou eu ao teu lado sorrindo. Contando teus cílios, sentindo teus cheiros. És tu ao meu lado sonhando comigo, me vendo acordado num sonho antigo. No sonho, me deito e durmo na areia depois de uma longa batalha vencida. Deitado ao teu lado, sou eu sorrindo. Teus olhos tremendo, cerrados, em transe. Na areia, sou eu deitado e teu o sorriso. Na cama, o sono e sou eu o vencido. E sou rei de um castelo de areia que se desmancha a cada passo de um gigante. E caem as torres e esfarelam-se os soldados. E o gigante lento se aproxima. Um passo, uma torre, um passo, um soldado. Em quantos passos serei eu o esfarelado? Sou eu o rei e és tu o gigante deitado ao meu lado. Que sonha comigo deitado na areia. Que já foi parte do castelo de um rei. Que agora é farofa no prato de um gigante. Que és tu no meu sonho e ao meu lado dormindo. Sonhando comigo num sonho onde não sou rei, mas soldado vencido. Pelo sono. E talvez por um gigante. E sou eu vencido sorrindo. E és tu a princesa dormindo. Deitada ao meu lado, em sonho, ao meu lado, na cama. Um rei vencido: o sono. Um castelo esquecido: um sonho. E não sei mais se me sonho acordado ou se durmo contigo. Pois se na cama acordo e te vejo sorrindo. De olhos cerrados e cabelos rebeldes. E sujos de areia, castelo e farofa. Ou sou um rei que sonha ao lado de um gigante ou uma torre onde, adormecida, dorme uma princesa. Mas eu sei: sonhas comigo. Na cama, na areia ou na torre. Sei que lá ou aqui nos encontramos. E eu sou teu e tu és minha. Em sonhos de areia.