por Cassiano Rodka
A rotina me deixou exato.
E no conforto de teus braços, eu a beijo. Anseio o novo, mas temo a mudança. E o medo me segura pelos calcanhares. E eu permito que ele me arraste de volta a teus braços. E estamos juntos novamente. Num velho abraço, confortável e gasto. E me sinto seguro. E só assim penso em ti. No outro abraço. Um que desconheço, que anseio, que temo. E puxo os velhos braços em torno de mim, enlaçando-me concreto. Uma muralha de pele e ossos. E fecho meus olhos para não te ver. E lá estás. Na minha mente, o outro abraço. E assim duplamente abraçado, me deito no colo da incerteza.
………………………….. Que abraço quero?
Mas então ela me puxa, exato. Ela me envolve e me aperta o crânio. E me mostra o caminho traçado, os espinhos rasgados, os dias de sol (onde estão os cinzentos?). E me mantém imóvel. A segurança de ter esse abraço, cansado e murcho, mas meu. O passado se insistindo presente e me oferecendo almofadas. Fujo de ti porque és futuro. E corro tanto de mim mesmo, que durmo.
A rotina me deixou exausto.
E nos meus sonhos, são tantos os braços. Que me puxam, empurram, enlaçam. Mas que não me encontram. Voam ao meu redor como um tufão, me batem, me apontam. E quando me encolho chorando, me desfaço. E acordo não mais exato. Desprotegido, mas intacto. Teus braços caídos, muralha desfeita. No carpete, restos de tijolos e mágoas. E sinto falta do outro abraço. O que desconheço, anseio e temo. E me levanto sonolento, pisando em cacos. E saio em busca dele, o abraço que não é muralha. Que me mantém aquecido, inexato. Que me envolve com os olhos e me toca os cabelos. Que me protege na distância e não me impede os movimentos. Que me enlaça em um sorriso. Que me fere a pele quando é preciso. Um abraço que não se fecha em mim, mas que permanece aberto ao me abraçar.